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GOVERNANçA E COMPLIANCE: Sucesso na adoção de boas práticas depende de engajamento geral

É uma unanimidade entre especialistas: para que medidas de governança corporativa e compliance deem certo, é fundamental o engajamento dos funcionários.

"A pessoa jurídica é reflexo da pessoa física. Elas são uma só. Por isso, o conceito de governança cidadã ganha força. As empresas sabem que o ambiente precisa ser cada vez mais íntegro dentro e fora da empresa", diz Fábio Lopes Soares, professor do MBA em controladoria, auditoria e compliance da FGV.

Para o engajamento, é preciso diálogo, troca de ideias e evitar que as chefias e as diretorias sejam centralizadoras em suas decisões, avalia o consultor Hamilton Ibanes, sócio da Mesa Corporate Governance.

Algumas empresas já fazem uso até de redes sociais e aplicativos como o WhatsApp para isso. O treinamento é feito com a simulação de conversas pelo aplicativo para expor dilemas éticos, como um funcionário indicar a empresa de seu irmão para ser fornecedora da companhia em que trabalha, por exemplo. É como se fosse um teste em que a empresa levanta o problema e, em seguida, indica qual seria a resposta mais adequada.

"Na comunicação, o compartilhamento de ideias é cada vez maior pelo WhatsApp e por outras redes sociais. E até nos ambientes físicos, as empresas optam pelo compartilhamento. As salas individuais dão espaço aos 'mesões' em empresas de tecnologia, varejo e do setor financeiro. É uma forma a mais de estimular a transparência", diz o professor Lopes Soares.

O resultado dos esforços pelo engajamento já pode ser quantificado em algumas empresas. Pesquisa recente feita pela Petrobras mostrou que 97% dos seus empregados acreditam que ajudar na prevenção dos desvios de conduta também é responsabilidade do funcionário, o que confirma que o fortalecimento da cultura de compliance da companhia está no caminho certo.

Neste ano, mais de 63 mil funcionários da Petrobras participaram de treinamento que abordou temas como nepotismo, conflito de interesses e uso da rede corporativa e mídias digitais relacionados ao código de ética e ao guia de conduta do Sistema Petrobras.

Canal de denúncia

Na hora de engajar seus funcionários, as companhias precisam estar atentas também a procedimentos operacionais considerados "simples", avalia Emerson Melo, sócio e diretor da área de gestão de risco da KPMG no Brasil.

"O funcionamento de canais de denúncias é um bom exemplo. A empresa tem boa iniciativa, cria o canal, mas ele só funciona em horário comercial? Que funcionário vai ligar durante o horário de trabalho para denunciar um colega?"

Uma pesquisa feita pela KPMG com 250 empresas de 25 segmentos chamou a atenção para o fato de 12% delas ainda não terem um canal de denúncia. E, entre as que tinham, 12% não monitoravam o volume de relatos.

Outro procedimento que precisa ser repensado, segundo o diretor da KPMG, são as avaliações dos funcionários: "Têm de ser feitas com profundidade e de forma clara. É preciso dar um retorno objetivo sobre o seu desempenho. Se ele errou, não dá para fazer média. Por que errou? O que fez para não errar? Corrigiu? Não? Foi por falta de estrutura da empresa?"

Todas as medidas que vêm sendo implementadas pelas empresas são importantes, mas os especialistas alertam: se as regras não forem assumidas e compartilhadas pela alta administração de uma empresa, não há programa de compliance que funcione.

"A empresa pode investir milhões em treinamento da cúpula ao chão da fábrica. Mas, se o exemplo não vier de cima, tudo vai ficar apenas no papel", diz o advogado Rodrigo Bertoccelli, presidente do IBDEE (Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial).

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

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